Em uma iniciativa inédita, a Embrapa e a Agência Espacial Brasileira (AEB) deram início a pesquisas sobre o cultivo de batata-doce e grão-de-bico no espaço. O projeto faz parte da Rede Space Farming Brazil, que busca desenvolver tecnologias para a produção de alimentos em ambientes de alta radiação e baixa gravidade. A pesquisa foi viabilizada por um convite da Winston-Salem State University, nos Estados Unidos.
De acordo com a Embrapa, o voo suborbital da Blue Origin, lançado recentemente, transportou plantas de batata-doce das cultivares Beauregard e Covington, além de sementes do grão-de-bico BRS Aleppo, desenvolvidas por cientistas brasileiros. A astronauta Aisha Bowe, ex-cientista de foguetes da WSSU, conduzirá os experimentos com as sementes brasileiras.
A escolha da batata-doce e do grão-de-bico se deve às suas vantagens agronômicas e nutricionais. Essas plantas são adaptáveis, resilientes e de rápido crescimento, características essenciais para o cultivo em condições espaciais adversas. A batata-doce, por exemplo, é uma fonte de carboidratos de baixo índice glicêmico e suas folhas podem ser consumidas como proteína vegetal.
Desenvolvimento de novas tecnologias
O secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI, Daniel Almeida Filho, destacou que a Rede Space Farming Brazil foi viabilizada pela participação do MCTI no Programa Artemis, da NASA. O objetivo é fomentar tecnologias de cultivo no espaço, que podem se desdobrar em projetos relacionados à mineração espacial e reciclagem de recursos.
A pesquisa busca desenvolver plantas mais produtivas e adaptadas às limitações do ambiente espacial. Segundo o pesquisador Fábio Suinaga, da Embrapa Hortaliças, o grão-de-bico será submetido à radiação Gama e aos nêutrons para gerar variabilidade genética, visando encontrar plantas mais precoces e resistentes.
O cultivo de plantas no espaço requer o desenvolvimento de sistemas de produção sem solo ou com regolito lunar e marciano, além de cultivares adaptadas a condições de baixa disponibilidade de água e nutrientes. Esses desafios também são relevantes para o setor produtivo de batata-doce no Brasil.
A Rede Space Farming Brazil, composta por 56 pesquisadores de 22 instituições, foi criada para inovar na produção de alimentos em ambientes fora da Terra. Em novembro de 2023, um protocolo de intenções foi firmado entre a Embrapa e a AEB para a participação no Programa Artemis, da NASA, visando superar desafios como as mudanças climáticas e desenvolver cultivares adaptadas a condições extremas.