Transposição do Rio São Francisco no Rio Grande do Norte Fotos: Junior Rosa/MIDR
Transposição do Rio São Francisco Rio Grande do Norte

Transposição do Rio São Francisco chega 390 municípios de quatro estados

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O Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) alcançou a plena operacionalidade dos Eixos Norte e Leste, garantindo o abastecimento de água a mais de 12 milhões de pessoas em 390 municípios do Semiárido.

Iniciado em 2007, o empreendimento leva água aos estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba e é apontado pelo governo federal como a maior obra de infraestrutura hídrica do país, com 477 quilômetros de extensão e orçamento de aproximadamente R$ 13,68 bilhões.

A infraestrutura do PISF reúne nove estações de bombeamento, 27 reservatórios, quatro túneis, 13 aquedutos e 270 quilômetros de linhas de transmissão em alta tensão. Segundo o sumário executivo mais recente, divulgado em agosto, o Eixo Norte registra 99,80% de execução física e o Eixo Leste, 97,13%.

No Eixo Leste, de 217 quilômetros, a captação ocorre no reservatório de Itaparica (PE), com condução até o rio Paraíba, em Monteiro (PB). Essa estrutura atende 161 municípios, alcançando cerca de 3,9 milhões de pessoas.

Em 2017, a chegada da água evitou o colapso hídrico do açude Epitácio Pessoa (Boqueirão), beneficiando mais de 1 milhão de habitantes em Campina Grande e região. O sistema foi projetado para bombear 28 m³/s, com vazão contínua de 14 m³/s destinada ao consumo humano.

No Eixo Norte, de 260 quilômetros, a captação é feita em Cabrobó (PE). As águas seguem para o Ceará, pelos rios Salgado e Jaguaribe, e chegam à Paraíba e ao Rio Grande do Norte, pelas bacias dos rios Apodi e Piranhas-Açu. O eixo atende 237 municípios, alcançando cerca de 8,1 milhões de pessoas.

A capacidade operacional contínua é de 24,75 m³/s, com vazão máxima projetada de 99 m³/s; atualmente, o transporte é de aproximadamente 25 m³/s. Em fevereiro de 2022, as águas do São Francisco chegaram ao rio Piranhas, em Jardim de Piranhas (RN), perenizando a bacia do Piranhas-Açu. À época, moradores relataram impacto imediato: o pescador José Carlos, 46, definiu o momento como “alegria imensa”, e o agricultor Sebastião Raimundo disse acreditar que “nunca mais vai faltar água”.

Ampliação do bombeamento e novos ramais

Para dar suporte ao avanço da rede adutora, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) priorizou a duplicação da capacidade de bombeamento do Eixo Norte, elevando-a dos atuais 24 m³/s para cerca de 49 m³/s. O Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC) destinou cerca de R$ 500 milhões para essa expansão. A contratação de bombas e conjuntos motobomba está em fase avançada, com expectativa de início de montagem no começo de 2027. Segundo o secretário nacional de Segurança Hídrica, Giuseppe Vieira, o projeto tem “alto nível de prioridade”.

A duplicação é apontada como condição para a entrada em operação plena de ramais estruturantes que ampliarão o alcance do PISF:

  • Ramal do Apodi (RN/PB/CE): com 115,4 km, transportará água por gravidade até o Rio Grande do Norte, beneficiando aproximadamente 750 mil pessoas em 54 cidades da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará. O primeiro trecho está em fase de testes na Paraíba.
  • Ramal do Salgado (CE): com 34 km, integra o Eixo Norte e tem potencial para beneficiar até 4,7 milhões de cearenses. O ponto de derivação está previsto no km 30 do Ramal do Apodi, em território paraibano.
  • Ramal do Agreste (PE): vinculado ao Eixo Leste, o sistema adutor de 70,8 km prevê investimento de R$ 1,6 bilhão e atendimento a mais de 2,2 milhões de habitantes em 71 cidades pernambucanas.

Novas aduções: inclusão de Bahia e Piauí

Atendendo a demandas regionais, o governo federal incluiu no Novo PAC o estudo de viabilidade técnica, econômica, ambiental e social (EVTEAS) do Canal de Integração do Sertão Piauiense — retomada do conceito do antigo Eixo Oeste da transposição. O estudo, orçado em R$ 8,5 milhões, analisará alternativas para levar água do São Francisco ao semiárido piauiense.

A estimativa é impactar 85 municípios e atender diretamente 26 (24 no Piauí e 2 na Bahia), beneficiando cerca de 698 mil pessoas. A solução proposta prevê a perenização dos rios Canindé e Piauí por meio de ligação com o reservatório de Sobradinho (BA), criando uma fonte hídrica permanente.

Na Bahia, avança o Projeto Canal do Sertão Baiano (CSB), que captará água no São Francisco a partir do Projeto de Irrigação Salitre (PIS). Com prioridade para abastecimento humano e dessedentação animal — e complemento para pequenos projetos de irrigação —, o canal tem custo estimado em R$ 7,2 bilhões, 317 km de extensão e previsão de atendimento a 47 municípios. O prazo estimado de execução é de 10 anos.

A primeira etapa do projeto executivo, de 10 km, já foi apresentada, e a entrega dos projetos básicos e executivos está prevista entre maio de 2025 e agosto de 2026. Para o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), o CSB deve operar como uma “reparação” histórica às populações do Salitre, marcadas por escassez e conflitos pelo uso da água.

Uso prioritário e impactos produtivos

O PISF foi concebido para segurança hídrica de longo prazo e “transformação estrutural para o semiárido”. O uso prioritário é o consumo humano e a dessedentação animal. A disponibilidade contínua de água também sustenta atividades produtivas como irrigação, agricultura familiar e piscicultura, ampliando oportunidades econômicas nas áreas atendidas.

Com os dois eixos em operação, a expansão do bombeamento no Norte e a implantação dos ramais e canais previstos, o sistema tende a consolidar o abastecimento dos atuais polos atendidos e a incorporar novas áreas do Nordeste setentrional, com a inclusão de trechos no Piauí e na Bahia em projetos de grande porte.

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