Das 417 cidades baianas, 29 ainda não registraram infecções por covid-19, todas com população igual ou menor do que 20 mil habitantes. Essas cidades estão localizadas nas regiões sanitárias do centro-leste, centro-norte, oeste, sul e sudoeste. Só nessa última, 9 cidades ainda não foram contaminadas, cinco na microrregião de Brumado e outras quatro na microrregião de Guanambi.
Esses dados foram obtidos através de um levantamento do Correio com algumas prefeituras municipais e a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab). No último boletim divulgado nessa segunda-feira (29), a Sesab ainda contabiliza 32 cidades não contaminadas pela covid-19. Esse número, na verdade, é menor, pois algumas prefeituras notificaram os casos nas últimas horas, o que deve ser atualizado nos próximos dias no boletim estadual.
Das nove regiões sanitárias da Bahia, quatro já foram tomadas pelo novo coronavírus: Norte, Nordeste, Leste e Extremo-sul. Em todas as cidades que ficam no litoral baiano e na divisa da Bahia com outros estados também foram registrados casos da doença.
Para o professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e pesquisador do portal Geocovid-19, Washington Rocha, esses dados refletem a interiorização da covid-19 na Bahia. “Percebemos que o histórico de espalhamento da doença se deu a partir de agrupamentos no litoral, que foram crescendo, e depois se espalhou rumo ao interior, principalmente ao logo das principais rodovias”, disse.
O professor prevê que em cerca de 60 dias, todos os 417 municípios serão completamente atingidos.
Gavião
Contrariando todas as expectativas do grupo Geocovid-19, a pacata Gavião não tem casos de coronavírus, mesmo sendo atravessada pela BR-324, uma das mais movimentadas do estado, e cercada por cidades repletas de casos da doença. A cidade é um ponto fora da curva, por enquanto.
“O que temos percebido quando avaliamos a evolução dos casos no interior, é que o vírus se dissemina a partir de vias, ligações e estradas. Gavião fica na beira de uma rodovia federal. É bem provável que seja um caso de subnotificação”, disse Washington Rocha.
Morador de Gavião, Pablo Cunha, 25 anos, disse que as barracas da cidade que ficam na beira da BR-324 estão abertas e caminhoneiros param para fazer refeições. “Lá é vendido artesanato, lanche, café da manhã e janta. Esses dois últimos são muito fortes. Na pandemia, o número de barracas abertas diminuiu, mas elas ainda continuam funcionando, no geral”, afirmou.
A coordenadora da vigilância epidemiológica do município, Diana Moura, confirmou que essas barracas estão funcionando, mas descartou a possibilidade de haver subnotificação na cidade. “Se uma pessoa de Gavião receber atendimento em outra cidade, após a investigação epidemiológica, o caso virá para o nosso boletim. Creio que quando tivermos o primeiro caso, outros virão logo em seguida, pela facilidade de transmissão do vírus”, disse.
O epidemiologista Eduardo Martins Neto explicou que para haver notificação da doença em uma cidade é preciso que sejam cumpridos três requisitos: “Primeiro, tem que ter importação do vírus. Depois, alguém fazendo o diagnóstico e, por fim, alguém que faça a notificação”. Para a vigilância epidemiológica, o primeiro requisito ainda não foi cumprido. “A gente ainda não teve um paciente que chegou na unidade, foi atendido pelo médico e teve, como diagnóstico, a suspeita de covid-19”, disse.
“É preciso entender que a maioria das cidades já tem casos e as notificações crescem no interior. Se os vizinhos de Gavião têm casos, é bem provável que o vírus chegue”, disse o epidemiologista. Localizado no centro-norte baiano, Gavião possui pouco mais de quatro mil habitantes e uma ampla zona rural, onde vive quase metade da população. Lá não tem hospital e os pacientes são encaminhados para o de Capim Grosso, cidade vizinha, que já tem 94 casos da doença, segundo o último boletim da Sesab.
“A baixa população não influencia necessariamente para que não haja casos, pois tem municípios com a mesma quantidade de habitantes e muitos mais casos. É difícil mesmo entender o motivo de uma cidade como Gavião não ter contaminado, já que ela é situada na beira de uma rodovia de fluxo intenso e rodeada de municípios que já tem casos”, disse o pesquisador do Geocovid-19.