O reservatório da Hidroelétrica de Sobradinho chegou ao 63,5% do volume útil neste domingo (16). Desde a última quarta-feira (12), a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) iniciou o processo de controle da cheia.
Além dos mais de 1.500 metros cúbicos por segundo (m³/s) vertidos pelas turbinas, com geração máxima de energia, as comportas estão sendo abertas de forma gradual desde sexta-feira (14).
O lago está recebendo em média 5.440,00 m³/s e o volume tende a subir ainda mais com a abertura das comportas em Três Marias, na Região Central Mineira, que ultrapassou a marca de 92% de volume útil. Estas águas devem chegar no sertão baiano daqui a cerca de duas semanas. Já a defluência chegou a 2.308 m³/s nesta segunda-feira.
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A previsão é chegar ao vertimento de 4.000 m³/s até o dia 24 de janeiro. A Usina de Xingó também vai chegar a esta mesma defluência. Por esta razão, o trabalho de alerta às comunidades ribeirinhas do Submédio e no Baixo São Francisco já foi iniciado.
No fim do período seco, o lago armazenava 32,96%, volume útil registrado em 29 de outubro. Desde então, com chuvas acima da média em toda a bacia, o volume vem aumentando dia após dia.
Antes de iniciar o regime de controle de cheia, a hidroelétrica estava operando com vazão turbinada de cerca 800 m³/s. Na terça-feira (11), houve incremento para geração de energia e logo na sequência, começou-se a abrir as comportas.
De acordo com a Chesf, pelo menos 16 pontos merecem atenção com o aumento da vazão nos próximos dias. Segundo informações da Chesf, é preciso haver atenção e orientações das prefeitura e das defesas civis. Também é preciso ficar atendo às placas nas áreas de segurança da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) e no entorno onde os vertedouros estão sendo abertos.
Ao longo dos anos, a companhia identificou pontos mais sensíveis à elevação de vazão em decorrência de ocupações irregulares na calha do Rio São Francisco, que deve ser mantida livre para o curso natural das águas. A Companhia já está em contato com prefeituras e defesas civis oferecendo todas as informações disponíveis.
Na avaliação da estatal, como os últimos dez anos foram de estiagem na bacia hidrográfica, atualmente, mais localidades devem apresentar pontos sensíveis a vazões da ordem de 2.500 a 4.000 metros cúbicos por segundo. Por este motivo, prefeituras e defesas civis devem ficar atentas ao aumento do nível.
As áreas de banho sinalizadas como impróprias devem ser evitadas, em respeito à segurança.
Pontos de atenção identificados pela Chesf
Trecho entre as usinas de Sobradinho e Luiz Gonzaga (Submédio São Francisco)
Pernambuco
- Petrolina: possui áreas sujeitas à inundação com vazões a partir de 4.000 m³/s. As ilhas situadas a jusante de USB começam a ser inundadas com vazões acima de 3.000 m³/s. Destaque para o Balneário da Ilha do Rodeadouro, famoso ponto turístico da região, que começa a sofrer inundação com vazões da ordem de 3.000 m³/s;
- Santa Maria da Boa Vista: Balneário da Ilha da Coroa sofre inundação com vazões acima de 3.500 m³/s. Olarias a montante do centro de Santa Maria, sofrem inundações com vazões de 4.000 m³/s;
Bahia
- Juazeiro: possui áreas sujeitas à inundação com vazões a partir de 4.000 m³/s. Destaque para o bairro do Angari, situado abaixo do dique de proteção, sujeito à inundações com vazões a partir de 3.000 m³/s;
- Abaré: Captação construída abaixo do nível da cidade e sujeita a inundação com a ocorrência de vazões superiores a 4.000 m³/s;
Trecho Usina de Xingó até a Foz (Baixo São Francisco)
Alagoas
- Piranhas: Bares construídos dentro da calha do rio sofrem inundação com 2.500 m³/s;
- Pão de Açúcar: Balneários sofrem inundação a partir de 3.000 m³/s;
- Belo Monte: Balneários sofrem inundação a partir de 4.000 m³/s;
- Traipu: Prainha inunda com vazões de 3.500 m³/s;
- São Brás: Vazões acima de 4.000 m³/s causam inundações em construções próximas a calha do rio;
Sergipe
- Canindé do São Francisco: Orla sofre inundações com vazões a partir de 3.000 m³/s;
Amparo do São Francisco: Balneários sofrem inundações com vazões a partir de 3.000 m³/s; - Porto de Folha: Povoados próximos a calha do rio sofrem inundação com vazões a partir de 3.000 m³/s;
- Gararu: Balneários sofrem inundação com vazões a partir de 3.000 m³/s;
- Telha: Balneário apresenta inundação com vazões superiores a 2.500 m³/s;
- Propriá: Balneário apresenta inundação com vazões superiores a 3.500 m³/s;
Santana do São Francisco: Balneário apresenta inundação com vazões superiores a 2.500 m³/s.
Nível do rio São Francisco em Minas Gerais e na Bahia
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Mesmo antes da abertura das comportas, municípios do Médio São Francisco já registram uma das maiores cheias das últimas décadas. Comunidades ribeirinhas estão isoladas e muitas pessoas tiveram que deixar suas casas em todo o curso do rio. A cheia também afetou plantações nas vazantes e criações de animais tiveram que ser retiradas das áreas alagadas.
Com a diminuição da chuvas nas regiões dos afluentes, como o rio Abaeté, o Paracatu e o das Velhas, o nível do rio está estável nas cidades da Região Central e do Norte de Minas. Porém, o escoamento natural da água ainda continua forte, principalmente no rio da Velhas;
Em Pirapora, o nível caiu bastante com a diminuição da cheia do rio Abaeté, porém a cidade é a primeira a receber as águas vertidas de Três Marias e a população já vê novamente o nível do rio voltar a subir.
A preocupação na cidade é com as obras de restauração do vapor Benjamim Guimarães, patrimônio histórico do rio São Francisco. A embarcação foi colocada às margens do rio desde 2020 para facilitar os trabalhos.
O risco de danos ao barco causados pela cheia fez que com a Cemig adiasse o início da aberturas das comportas, mesmo assim, a água chegou até o casco da embarcação na última terça-feira (11). Com o aumento da vazão, é provável que a água chegue perto novamente do vapor, último barco movido a lenha do mundo.
A prefeitura de Pirapora informou que os trabalhos de restauração estão parados há meses e que tenta junto Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA) e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ações de segurança e a volta imediata das equipes de trabalho.
A cheia na cidade atingiu o pico na última quarta-feira, com nível chegando à cota 4,12 m. Nos dias seguintes, o volume de água voltou a diminuir e o nível chegou a 3 m. Com a chegada das primeiras águas de Três Marias, a cota subiu ao patamar de 3,70 m na madrugada desta segunda.
Em Cachoeira da Manteiga, no município de Buritizeiro, já no norte mineiro, o pico da cheia aconteceu na última quinta-feira (13), com o nível chegando à cota 10,03 m. Desde então, o nível voltou a cair mas se manteve estável em na cota de 9,70 m.
Mais à frente, em São Romão, o pico foi na madrugada de sexta-feira (14). A cota atingida no município foi de 7,49 m, caindo um pouco durante o fim de semana mas se mantendo na casa de 7,40 m. Já no município de São Francisco, o rio ainda está em ligeira elevação, chegando à cota 9,3 m neste domingo (16).
De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (CRPM), nestas cidades, o nível apresenta tendência de estabilidade nos próximos dias nestes municípios. Já na Bahia, o volume de água ainda deve aumentar por mais alguns dia.
Em Malhada e Carinhanha, primeiras cidades baianas banhadas pelo Velo Chico, a perspectiva é de que o rio suba mais alguns centímetros e comesse a se estabilizar já no início da semana. Uma reportagem exibida no Jornal Nacional deste sábado (17), mostrou os impactos das chuvas acima da média e da cheia na região.
Em Malhada, as lagoas que margeiam o rio estão recebendo as águas que trasbordam pelos braços criados pelo rio na zona rural do município. Na cidade, a água já está muito perto de encobrir o cais e da margem.
Para a cidade de Bom Jesus da Lapa, o rio ainda deve ganhar mais alguns centímetros até a madrugada de quarta-feira (19), e começar o processo de estabilização logo em seguida, de acordo com o CPRM. O nível atingiu a cota 8,65 na madrugada desta segunda-feira, quase meio metro a mais do que foi registrado na cheia de março de 2020.
Os quiosques localizados às margens do rio foram sendo tomados pelas águas dia após dia. Muitos moradores das ilhas e margens também precisaram deixar suas casas.
Seguindo seu percurso, em Ibotirama, o Velho Chico deve atingir seu pico somente na próxima sexta-feira (21). Já em Morpará, a cota máxima deve ser alcançada no sábado (22).