Depois de 135 dias viajando por Alagoas, Bahia e Minas Gerais, o casal alagoano José Francisco e Dona Inácia enfim concluiu a viagem em busca do sonho de conhecer a nascente do Rio São Francisco, localizada em São Roque de Minas, na região da Serra da Canastra.
Eles saíram de Delmiro Gouveia, município do Sertão Alagoano, no dia 1º de maio. Nestes mais de quatro meses viajando, fizeram muitas amizades e conheceram várias cidades localizadas às margens do Velho Chico e também em outras regiões, como a histórica Canudos, no Nordeste Baiano, e algumas cidades da Chapada Diamantina, como Mucugê e Rio de Contas.
Na região da nascente, a recepção aos viajantes foi bastante calorosa, sendo recebidos pessoalmente pelo prefeito da cidade. Na igreja, foram homenageados e receberam bênçãos do padre durante a missa.
Antes de explorar a Serra da Canastra, foram convidados para realizar um outro sonho, conhecer os Cânions do Lago de Furnas, nas cidades de São José da Barra e Capitólio. Pela primeira vez, José e Inácia transpuseram a vertente sentiram as águas do rio Grande, principal formador do Rio Paraná.
Na manhã desta quarta-feira (14), o objetivo principal da expedição foi enfim concluído. O casal chegou ao Parque Nacional da Serra da Canastra e pôde ver de perto onde começa a se formar o rio mais importante de Minas Gerais e do Nordeste do Brasil, fornecedor de água, energia, transporte e alimento para as populações de mais de 500 municípios de sua bacia.
Eles ficaram bastante emocionados ao chegarem ao local considerado historicamente como nascente do maior rio localizado integralmente em território brasileiro. As pessoas que os acompanhavam também puderam dividir esta emoção.
Com a missão cumprida, Seu José Francisco e Dona Inácia irão planejar a viagem de volta. Eles ainda não divulgaram qual trajeto pretendem fazer para voltar para o Estado de Alagoas.
Antes de seguir de volta iniciar a volta para casa , eles apresentarão o filme em Vargem Bonita, no domingo (18)
José Francisco
José Francisco é aposentado pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), fundador de um importante centro de acolhimento de meninos de rua em Palmeira dos Índios – a Fundanor, inventor de uma gaiola de tanque-rede que beneficiou inúmeros pescadores em Traipu e o pioneiro na área de turismo em Delmiro Gouveia .
Ele é ícone e símbolo de empreendedorismo e boas práticas ambientais e sociais, reconhecido pelo Sebrae, pelos órgãos ambientais e outras instituições públicas e privadas do país, além da mídia nacional – a novela “Cordel Encantado” foi gravada no seu quintal; o programa “Como Será?” lhe proporcionou uma participação de 30 minutos, na seção “Heróis Possíveis para Causas Impossíveis”, e a novela “Velho Chico”, em sua estreia, o levou ao Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, onde foi homenageado.
Ainda que semianalfabetizado, foi palestrante em Universidades, escolas e grandes bancos; já foi levado ao exterior, já recebeu diversos prêmios e títulos por atitudes sociais, culturais, ecológicas e empreendedoras.
Talhado para Viver
Seu José e Dona Inácia moram em um local bem próximo aos Cânions do rio São Francisco em Alagoas e são donos de uma propriedade chamada “Mirante do Talhado”, com o privilégio de ter um braço do rio no quintal.
A expedição batizada de “A Viagem da Integração” chegou a Belo Horizonte no mês passado, onde o casal ficou descansando na casa de Dona Vanuzia, irmã de Seu José Francisco.
As cinco etapas da viagem deram um total de 3.213 quilômetros. Eles viajam numa caminhonete Fiat Strada, adaptada para fornecer tudo que o casal precisa durante as pousadas pelas cidades do trajeto. O piloto planejou reservar sempre no começo do mês, ao receber a aposentaria, o valor de R$ 500 para a gasolina. Enquanto não virava o mês, a viagem não avançava mais do que a quilometragem do combustível.
A expedição faz parte de um documentário que conta a vida do sertanejo de 82 anos, produzido pelo diretor e fotógrafo Edson Carvalho, de Salvador. A obra se chama “Talhado para Viver”, e também narra a saga dos alagoanos pelos caminhos que os levaram até o rio São Francisco.
Carvalho fez remotamente um diário da viagem e usa as imagens registradas pelos sertanejos por onde passaram na produção do documentário. Tudo pôde ser acompanhado com atualizações todos os dias em um grupo criado para este fim no Facebook. Nesta última etapa do percurso, ele viajou para Minas Gerais com a intenção de registrar pessoalmente o ápice da expedição.
Talhado pra Viver teve pré-estreia, ainda sem as cenas finais da chegada à nascente do Velho Chico. A exibição aconteceu no último domingo (11), na praça da igreja católica de São Roque de Minas. Com a conclusão das filmagens e edição, a obra poderá chegar ao festivais de cinema Brasil afora.
O diretor ressalta que o documentário é totalmente independente e solitário, exceto pelas músicas, interpretadas exclusivamente para a produção. As gravações começaram no ano passado, no Mirante do Talhado, quando o planejamento da viagem começou.
Nascente histórica
A nascente do rio São Francisco da Serra da Canastra em São Roque de Minas é considerada histórica, pois por muitos anos acreditou-se que ela fosse a verdadeira nascente geográfica.
Entretanto, de acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, foi determinado que a nascente geográfica do Rio São Francisco encontra-se no município de Medeiros, em Minas Gerais. Mesmo assim, a nascente de São Roque de Minas continua sendo de muita importância turística, ambiental e histórica.