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Burla: MPF denuncia criminalmente prefeito e ex-prefeito de Caetité por fraude em 28 licitações

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O suposto esquema de desvio de dinheiro público na prefeitura de Caetité foi denunciado criminalmente pelo Ministério Público Federal (MPF) em Guanambi nesta sexta-feira (24). A ação penal por fraude em licitação e associação criminosa envolve o o ex-prefeito de Caetité, José Barreira de Alencar Filho, o atual prefeito, Aldo Ricardo Cardoso Gondim – Secretário de Administração à época dos fatos, os empresários Josmar Fernandes dos Santos e Júlio César Cotrim e os então agentes públicos, Arnaldo Azevedo Silva, Gláucia Maria Rodrigues de Oliveira e Rubiamara Gomes de Souza.

Segundo o MPF, os empresários, o ex-gestor e o atual prefeito e a Rubimara Gomes são os principais autores dos crimes. Os agentes públicos à época: Eugênio Soares da Silva, responde agora por fraude em licitações, e Thaís Rodrigues da Cunha e Nilo Joaquim Azevedo – que ocupava o cargo de Secretário de Serviços Públicos – por associação criminosa.

Os empresários envolvidos são reincidentes para o MPF. Eles  foram presos em 2016 durante uma operação Burla, deflagrada  em conjunto com a Polícia Federal e Controladoria Geral da União (CGU). Josmar já foi condenado a mais de 9 anos de prisão, enquanto Júlio César Cotrim acumula penas que somam mais de 15 anos. Eles atualmente encontram-se em prisão domiciliar. Diversas outras ações penais e de improbidade tramitam na Justiça Federal em Guanambi contra os empreiteiros. A operação foi iniciada após uma denúncia de irregularidades em reformas de escolas no município de Pindaí. Após as investigações, os empresários foram condenados, já os agentes públicos foram absolvidos pela Justiça Federal.

As investigações apuraram que entre 2009 e 2016, em Caetité, durante os oito anos de mandato de José Barreira como prefeito, 28 licitações foram fraudadas. Todos os processos licitatórios têm como vencedoras empresas de fachada ocultamente controladas por Josmar dos Santos (Fernandes Projetos e Construções e JK Tech Construções). O valor dos contratos firmados ilegalmente é de R$ 14.303.415,15 – a JK Tech recebeu R$ 8.909.967,42 e a Fernandes, R$ 5.393.447,73.

A ação do MPF, contudo, se resume à responsabilização dos acionados pela fraude de cinco licitações realizadas nos anos de 2011 e 2012 envolvendo recursos do Fundo de Manutenção Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Os demais casos estão sob a atuação do MP do Estado da Bahia, por não envolverem recursos federais.

Segundo o MPF, foram apuradas diversas irregularidades nos processos licitatórios, como ajuste prévio entre o empresário e a administração, restrição de competitividade, ausência de publicidade das licitações, recebimento de propostas com formatação idêntica, representantes de empresas ausentes mas que “assinaram” os documentos, empresas que vencem a licitação sem atender aos critérios do edital e até a cobrança abusiva de R$100 como taxa para obter o edital. De acordo com a ação, as provas evidenciam o direcionamento dos resultados: empresas de Josmar, sozinhas ou com empresas de Júlio, foram convidadas pela prefeitura em nada menos do que 14 convites, sendo as empresas de Josmar as ganhadoras em todos.

O MPF concluiu que os sócios que figuram no contrato social da JK Tech – vencedora de quatro das cinco licitações – eram um recreador contratado pela prefeitura e um agricultor familiar, ambos com vencimentos que não superam um salário mínimo. Além dos sócios usados como laranjas, no endereço da JK Tech constante em seu contrato social existia, na verdade, um centro espírita. As investigações apuraram que as empresas não possuem mão de obra capacitada nem infraestrutura para realizar os serviços descritos nos contratos sociais e solicitados nos editais das licitações. Por exemplo, a JK Tech, embora afirme que presta serviços de locação de máquinas pesadas e automóveis, apenas possuía uma motocicleta Honda/NXR 125, ano 2013.

Na ação, o MPF sustenta que o ex-prefeito José Barreira direcionou os resultados das licitações, assegurando o favorecimento de Josmar. As licitações fraudulentas foram conduzidas em conluio com servidores da prefeitura que na época atuaram como membros das comissões de licitação, destacando-se Rubiamara, que conduziu dez dos 28 processos licitatórios fraudados. O atual prefeito de Caetité, Aldo, solicitou, enquanto secretário municipal, a realização de diversas licitações, principalmente convites, estipulando unilateral e arbitrariamente um preço inicial sem pesquisa. Nilo de Azevedo, à época também secretário da prefeitura, deflagrou licitações sem pesquisa prévia de preços ou com pesquisas fraudulentas. As empresas controladas por Júlio César Cotrim (Construjam Construções, Cobrasiel e Euplan) integraram parte das licitações apenas para compor o processo fraudado e favorecer Josmar.

Pelas ações criminosas repetidas em diversas licitações, em articulação coordenada entre o prefeito, empresários, secretários e integrantes das comissões de licitação, o MPF concluiu que a conduta de parte dos envolvidos se enquadra no crime de associação criminosa.

O MPF requer, além da condenação dos acusados por fraude em licitações (art. 90 da Lei 8.666/93) e associação criminosa (art. 288 do Código Penal), a fixação de multa indenizatória de no mínimo, R$1 milhão, para reparação moral coletiva. A Justiça Federal irá analisar a denúncia e decida pelo seu recebimento para que seja instaurada a respectiva ação penal. Instaurada a ação, os denunciados passarão a ser réus e caberá ao juiz designado dar seguimento ao processo, o que pode resultar na condenação e na aplicação de penas aos denunciados.

Em nota, o prefeito Aldo Gondim informou que “recebeu com surpresa a notícia, mas que está confiante e se coloca à disposição da justiça, pois provará sua inocência pelos meios legais”.

Íntegra da ação

*Com informações do MPF

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